Já vai para mais de dez anos, é quase um ritual: sempre que vamos fazer compras no Mercado Obor (desde que me entendo por gente moro “na boca de Obor”, como se diz), encerramos com uns mici, que são comidos com palitinhos, como manda o regulamento, numa bandejinha de papelão regada com muita mostarda (daquela barata, romena, bem grosseira) e com uma mais que merecida cerveja.
Month: July 2017
VOCÊ AINDA ESCOLHERIA A CARREIRA DE POLICIAL?
Fala-se que a lei é como uma cancela que consegue barrar apenas os idiotas, enquanto os espertinhos passam por cima ou por baixo dela. Eu não teria conseguido dormir tranquilo sabendo que, depois de multar um aposentado, um trabalhador ou um taxista, deveria deixar em paz alguém que incorrera na mesma infração, mas que era intocável devido à posição que ocupava. Coloquei na minha cabeça que nunca faria uma coisa dessas.
EU TAMBÉM VIVI NO COMUNISMO – II
Certa vez passei na casa de meus pais. Durante o dia não havia gás, pressão zero. O réchaud elétrico tinha quebrado, e minha mãe tentou cozinhar um ovo numa vela, para o meu pai, que tinha que sair até o centro da cidade. Nunca soube se meu pai comeu aquele ovo cozido ou cru.
EU TAMBÉM VIVI NO COMUNISMO
Reunimos neste livro fatias de vida cotidiana nos anos do comunismo. Para nós, pessoas do Leste Europeu, foi assim que o comunismo se concretizou. Foi assim que o vivemos, foi assim como o sentimos na própria pele. O esquecimento começou quando da queda do comunismo. Já amadureceram, até hoje, gerações que não têm mais o que esquecer: nasceram em outro mundo, “em um outro planeta”.
Kafka meets Orwell na Romênia
E lá, testemuhou uma cena, uma discussão entre um sujeito, inevitavelmente suado, claro, porque lá o calor era grande, e uma funcionária do guichê de atendimento. O cidadão precisava de uns documentos, apresentou a carteira de identidade e a senhora funcionária diz: “Sinto muito, esse aqui não é o senhor.”